Passei os últimos dias pensando no que dizer sobre John Hughes. Não queria e nem poderia deixar a morte dele passar em branco. Mas também não queria dizer algo banal, afinal de contas, estou falando de um cara cujos filmes foram parte importante na formação de muitos de minha geração.e cuja morte talvez não tenha tido a devida importância que uma pessoa como ele merecia. Talvez a morte dele passe em branco entre os pseudo-intelectuais e críticos boçais que pululam por aí. Gente que não percebe em Hughes um modo diferente de se dirigir a juventude, fugindo ao lugar comum e tentando guiar-nos para além do mar de obviedades. Hughes talvez tenha sido um profeta falando para nós em meio ao desamparo de viver no auge da era Reagan.
Pensei em falar sobre seus filmes de um modo geral ou algo semelhante, o fato que queria fugir do lugar comum de falar de “Curtindo a Vida Adoidado”, talvez seu filme mais famoso. Não nego a importância desse filme, longe disso, considero um clássico, indo mais além, uma obra-prima subestimada. Mas justamente por isso, acho que todos falariam das aventuras de Ferris Bueller. Eu queria fazer algo diferente.
Resolvi fazer uma maratona com alguns dos filmes de John Hughes antes, e foi revendo “O Clube dos Cinco”, que vi algo que sintetiza bem a importância de John Hughes para aqueles que como eu tem mais de 30 anos, e até mesmo para os mais novos, afinal eu ainda vejo uma certa atemporalidade na obra dele.
Em “O Clube dos Cinco”, Hughes parte daquilo que poderia ser o típico grupo de adolescentes estereotipados para fazer um pequeno estudo das pressões aos quais somos submetidos nessa fase da vida. Pressões por parte de nosso nicho social, e principalmente por parte de nossos pais. É difícil ver num filme adolescente comercial, tal profundidade no tratamento desse tema espinhoso, o de como muitas vezes somos vitimas da carga de ansiedades e frustrações que nossos pais e mestres depositam sobre nós. Nos pressionando para ou sermos como eles, ou sermos como eles esperam que sejamos, quando no fundo tudo que queremos é sermos nós mesmos, encararmos a vida de nosso jeito, errarmos e acertarmos por nós mesmos. Hughes teve sensibilidade para ver isso, para lidar com isso de um modo ao mesmo tempo leve e profundo, divertindo e refletindo, do jeito que uma grande obra da cultura pop deve ser.
O atleta que não pode perder jamais vivido por Emilio Estevez, o nerd superdotado de Anthony Michael Hall, a patricinha aparentemente fútil de Molly Ringwald, o rebelde violento fruto de um lar desestruturado de Judd Nelson e a garota estranha de Ally Sheed podem até ser considerados estereótipos hoje em dia, mas quando foram criados e do modo como estão inseridos, estão mais para arquétipos universais. Como bem diz a redação que eles entregam ao final do filme, dentro de nós existe cada um deles.
Tomara que o tempo dê a Hughes a importância que ele merece.
2 comentários:
Que mundo de merda.
Que mundo é este onde "pessoas" como Joh Hughes se vão e 'pessoas' como Michael Bay continuam vivas?!?
Que desgraça...!
É verdade.
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