segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Prometeu Acorrenttado X Hamlet

Angústia pode ser lida como motivação principal das duas obras, não a toa que ambas estejam no centro das influências entre os românticos. Em Prometeu, podemos entender o seu ato de “roubo” do fogo como uma metáfora para aquisição de conhecimento e capacidade de discernir e por tabela o seu castigo eterno como o preço que pagamos quando realmente temos consciência que vivemos num cenário de idiotas. Sofrer, e sofrer eternamente é o resultado de ousarmos discernir que a realidade é cruel, que o mundo e a religião não nos dará alivio as nossas dores e que mais nada faz sentido. O que nos leva também a Hamlet, se esquecermos por um momento que o príncipe luta para vingar a morte do pai ante um tio usurpador, veremos que o próprio príncipe já divaga por entre as paredes do palácio, sofrendo ante uma crise existencial, que é o cerne do monologo lá do Ato 3, cena 1, o famoso “Ser ou não Ser”. Esse monologo em meu entender é sim fruto de uma alma atormentada com a falta de um lugar no mundo, de um deslocamento que é da natureza romântica. Reflexão, dramas de consciência, em ambos, Hamlet e Prometeu Acorrentado somos apresentados a sentimentos e pensamentos eternos e cada vez mais atuais. Vivemos um mundo em transição? Ou somos nós que em transição por esse mundo árido na verdade nos sentimos deslocados? Um observação é possível, em todos os momentos em Prometeu Acorrentado é oferecida a chance de uma saída, de uma escapatória ao flagelo, mas o herói orgulhosamente sempre a recusa, em Hamlet, o príncipe sempre surge entediado, aparentemente é um personagem em que a história não se move nele, ele dialoga com a plateia, mas ainda não acontece de fato, a reclamação ante o casamento do tio com a sua mãe, mais parece uma manifestação de ciúmes edipiana do que propriamente uma vergonha por ver um usurpador no trono, e se não fosse o fato dos outros personagens verem o fantasma de seu pai também, poderíamos até suspeitar tratar-se de algum tipo de alucinação, mas a maneira como ele se entrega a sua missão, revela mais um desejo de compensar uma dor por outra. A dor de Hamlet, é não saber seu lugar no mundo, seus amigos são falsos e sua vida é cinzenta, fria e sem um norte satisfatório. A vingança insana é melhor que a angústia, e a dor é melhor do que a sensação de não estar vivo. A razão de viver, ainda que pela dor, uma outra característica muito explorada pelo romantismo, para sentir-se vivo é necessário provar todas as sensações ao extremo, ainda que essa sensação seja a dor, física ou espiritual.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Eu sempre soube disso.

Um pesquisa realizada pela Universidade Heriot Watt, em Edimburgo, na Escócia descobriu que fãs de música clássica e heavy metal são parecidos. Eu não sei quanto ao uso do dinheiro escocês em pesquisas desse tipo, mas eu acho que os cientistas da supra-citada universidade não descobriram nada lá muito novo. Eu que comecei a ouvir heavy metal por causa de meu gosto pessoal por música clássica sempre vi conexão nos dois géneros. Behemoth e Wagner provocam em mim o mesmo tipo de emoções. Death Metal e opera (Rossini de preferência) me deixam calmo e tranquilo.
Queria ver o povo da Globo noticiar esse tipo de resultado.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/09/080905_musicapersonalidade_np.shtml

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Deus? No meu não.

Se Deus realmente fosse real, e o que está escrito na Bíblia fosse verdade, o Brasil já teria sido destruído há muito tempo.
Porque o "Todo-Poderoso" detonou Sodoma e Gomorra somente porque uns pervertidozinhos inofensivos queriam comer o brioco de uns anjos. Mas dizer o que de tempos atuais? Onde temos um senado do jeito que é, câmaras de vereadores no interior da Bahia que ignoram o caos social que os cerca e só trabalham em proveito próprio. Lideres religiosos que pegam o dinheiro de idiotas para investir em canais de TV, desembargadores e juízes que há muito esqueceram o que é ética.
Pois é, ou Deus não existe, ou é um cretino cínico.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Tentando.

Como eu estou no momento as voltas com alguns projetos de roteiro, e para não deixar o blog as moscas como outrora eu fazia, resolvi colocar um trabalho que escrevi para a disciplina de Estética e Cultura. Foi um trabalho feito de qualquer jeito, sem revisão, somente porque fui deixado de fora dos grupos de seminario. Nesse trabalho, a minha nota foi maior do que a que eu merecia em minha opinião. Leiam e opinem:

As Estéticas do ódio numa sociedade do espetáculo

Nos primeiros acordes da música “Aesthetics of Hate” do Machine Head, a guitarra é dedilhada de um modo nervoso, angustiado. Os outros instrumentos surgem na música e a angustia cresce transformando-se em revolta, é quando surgem os vocais do guitarrista e vocalista Robert Flynn, que eleva o sentido da palavra raiva a um outro nível. Ele praticamente brada em sua dor e revolta: “You tried to spit in the eye/ of a dead man’s face/ Attacked the ways of a man not yet in his grave/ But your hate was over all too soon/ Because nothing is over and nothing’s through/ ‘til we bury you.” (“Você tentou cuspir no olho/ da face de um homem morto/ Atacou os modos de um homem ainda não sepultado/ Mas seu ódio já estava sobre tudo tão cedo/ Porque nada terminou e nada está terminado/ até enterrarmos você.”). Ouvimos isso, e salivamos de ódio junto com Flynn.
Quase três anos, em 8 de dezembro de 2004, ocorria um dos fatos mais chocantes da história da música. Nesse fatídico dia, já marcado por uma outra trágica efeméride, que foi a morte de John Lennon, assassinado 24 anos antes, numa brutal coincidência, um fã maluco invade o palco do Alrosa Villa em Columbus, Ohio durante um show do Damageplan e assassina o guitarrista Dimebag Darrell, que antes fora figura central do Pantera, uma das mais importantes bandas de heavy metal dos anos 90.
Como seria de se esperar, a morte de Darrell se transforma na bola da vez no circo de mídia da imprensa em busca de sensacionalismos. Nisso se destacou a rede Globo, com uma cobertura preconceituosa e sensacionalista da morte do ex-guitarrista do Pantera. Não basta noticiar, é preciso vender a idéia de que a tragédia tinha sido cultivada pela vítima. Dimebag seria mostrado como um usuário de drogas, pregador do ódio e da violência. Não faltando claro, as típicas insinuações ao satanismo dos headbangers e de que acidentes do tipo ocorriam frequentemente em show de heavy metal.
Logo em seguida, Arnaldo Jabor apresentou a cereja do bolo, um editorial intitulado “Não Sobrou Nada”, onde certo trecho, ele afirmava: “Com a pressão do mercado mais sólida e invencível, a falsa violência comercial, sem meta, nem ideologia, fica mais louca e ridícula. Os shows de rock viram missas negras que lembram comícios facistas. É música péssima, sem rumo e sem ideal. A revolta se dissolve e só fica o ódio e o ritual vazio. Hoje, chegamos a isso, a essas mortes gratuitas. A cultura e a arte foram embora e só ficou a porrada.” O detalhe, Jabor não foi original nem em suas idéias preconceituosas e em seu texto equivocado, um jornalista americano, William Grim escreveu um artigo para um site conservador chamado Iconoclast. Nesse artigo intitulado “Aesthetics of Hate”, Grim escreveu que Darrell era “parte de uma geração que possui uma confusa noção de arte, um ignorante, bárbaro, um sem-talento possuidor de uma guitarra. Mais simiesco que humano.
O artigo de Grim geraria claro uma resposta de seus amigos, entre eles Robert Flynn do Machine Head. Mais adiante na mesma música Flynn declara: “For the Love of Brother/ I will say these fucking words/ No silence against ignorance...” (“pelo amor ao irmão/ eu direi estas palavras/ não calar ante a ignorância...”)
O que se tira do episódio é o modo como se lida com determinadas noticias. Não basta dizer que um fã ensandecido sobe no palco e desfere tiros contra o seu idolo de outrora, por mais que essa noticia pareça chocante, e é. Acontecem coisas piores nas ruas brasileiras em estado de guerra civil. É preciso vender um espetáculo noticioso. Nem que para isso a verdade seja suprimida num festival de preconceitos e idéias distorcidas. Heavy Metal é ainda o alvo perfeito para isso. Multiplica-se através dos meios de comunicação de massa, a idéia e a imagem da violência, da blasfêmia, que estariam presentes entre os seguidores desse gênero musical.
Se a idéia é vender qualquer imagem tipo de imagem que leve o Homem à passividade e à aceitação dos valores preestabelecidos pelo capitalismo, qualquer coisa que seja fora desses conceitos, não serve porque nega esses valores. O belo não é aquilo que se acha belo, mas aquilo que é dito ser belo, um conceito que vem de cima para baixo. O metal com sua fúria, visual sujo, e criação sonora em tritono não serve para trilhas sonoras de cenas de amor bobas das novelas do horário nobre. Não é comercial, é a antítese desse tempo moderno em que voltamos à celebração do puro, da vida em cor-de-rosa.
A imagem ganha tal força que as pessoas se pautam por aquilo que é vendido a elas como verdade absoluta, passam então a acreditar no virtual numa proporção igual ou até mesmo maior que o real. É um era onde seitas religiosas surgem, se proliferam e arregimentam fieis através da distorção da verdade possibilitada pela mídia, não toa todas querem um canal de TV, jogadores de futebol e algum cantor para fazer às vezes de relações públicas. Em cada vitória da seleção, cada gol é um festival de erguer as mãos para cima e/ou mostrar camisetas com frase do tipo: “Deus é Fiel”, “Pertenço a Jesus” que depois se converterá em mais marketing, mais fieis e mais dinheiro para o pastor da congregação a qual pertence aquele jogador. Nesse festival de cristãos-novos, onde cada conversão de uma pseudo-celebridade tirada do mundo das trevas onde ela estava revela o diabólico jogo do capitalismo pós-moderno, da sociedade de espetáculos que vende o ideal de felicidade alienada do capitalismo, sua crença religiosa também é comercio, mas o fato é que como diria o Slayer: “God Hates us all” e “God Send Death”. Porque na realidade não há uma salvação do pesadelo moderno, e sim a idéia de que se pagarmos por ela, pagarmos pelas orações, pela salvação, aí ela virá. O carnê que outrora se pagava pela prestação de um carro, de uma TV, agora se usa para pagamento do dizimo, comprando uma passagem e um lugar no paraiso para o pagador. E não interessa, se o crime é hediondo, selvagem e atroz, “aceitou jesus” então é vendida a idéia de que a selvageria ficou no passado e se é mais puro e santo do aquele etico ateu. Não importa portanto o comportamento correto, e sim a imagem de santidade, mesmo que ela seja falsa.
Religião, informação, entretenimento, a serviço dos meios de comunicação de massa ou os meios de comunicação de massa controlados por grupos economico-religiosos fazem de sua presença constante e incessante, abarcando o Homem e levando-o a crer que ele deve viver a vida do modo como é vendida, uma vida sonhada e idealizada como as presentes em comerciais de margarina. Uma vida onde ficção e realidade se fundem buscando tornar o individuo ainda mais passivo de modo que ele possa deglutir sem contestação os valores vazios de uma sociedade em que não se sabe se o reino da ficção bebe no reino real ou se o reino real é um mundo de ficção. Passivo, como marionetes na mão do títereiro, citado na música do Metallica, Master of Puppets: “Taste me and You will see/ More is all you need/ You’re dedicated to/ How I’m Killing you... ...Obey Your Master/ Master of Puppets I’m puling your strings/ Twisting your mind and smashing your dreams/ Blinded by me, you can’t see a thing....” (“Experimente-me e você verá/ Mais é tudo o que você precisa/ Você está dedicado a como/ Agora eu estou matando você... ... Obedeça seu Mestre/ Mestre de Bonecos eu controlo suas cordinhas/ retorcendo sua mente e esmagando seus sonhos/ cego por mim, você não vê nada”).
A passividade parece ter vencido, quando ligamos a TV e somos apresentados ao espetáculo, esse sim vazio, que é o Jonas Brothers. Tudo o que a música pode proporcionar em termos de rebeldia e inconformismo contra o sistema opressor, contra as pressões da sociedade de consumo é transformado em um vergonhoso pastel de isopor, montar um grupo hoje é para alguns uma atividade como outra qualquer, cujo objetivo é ganhar dinheiro, muito dinheiro vendendo caderno, mochila, telefone celular e até mesmo a idéia da pureza e do celibato.
Não basta ter canções excepcionais, conhecer conceitos de andamento, escala e uso de síncope e etc. É preciso ter uma estética que venda o “artista”, transformando a música em artigo de prateleira de supermercado. É assim com o Jonas Brothers hoje, mas já foi assim com o Hanson antes, com Menudos, etc. Nada de muito chocante, tudo embaladinho com lacinho de presente, para que pais e mães despreocupados comprem discos, cadernos, etc. Sem se preocupar se o filho será um rebelde, ou o que valha. Alguém que vai abaixar a cabeça diante de um não, e que vai aceitar toda e qualquer bobagem que for enfiada garganta abaixo.
Se o espetáculo consiste nessa multiplicação descartável de ícones e imagens, através dos meios de comunicação de massa. Valorando equívocos e transformando-os em hábitos de consumo. A música deixa de ser música, vira uma mercadoria fetichizada, vendida ao sabor das modas e das “ondas do verão”, o que é sucesso hoje, deixa de ser sucesso amanhã, uma manifestação superficial, uma das mais cruéis opressões da sociedade do espetáculo, dizer o que você deve comprar, o que você deve ouvir, o que você deve ser.
É isso que incomoda entre os fãs de heavy metal. Eles ouvem aqueles que eles querem. Numa cena do Famoso documentário “METAL – Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal” do diretor Sam Dunn, Rob Zombie declara que dificilmente se verá um fã de metal dizendo que esteve ouvindo o som apenas por um verão, que gostou do gênero apenas por seis meses. Essa característica de fidelidade é que permite que o gênero sobreviva mesmo quando leva pedrada de tudo quanto é lado.
É comprovado, que uma vida sem desafios reais tende a ser depressiva e triste, porque o indivíduo não vê nenhuma função para a sua existência. É fato também que muitos notam certa insatisfação com a vida quando entram na adolescência. Nessa idade complicada, em que o corpo se descontrola com uma nova descarga de hormônios, é que muitos viram alvos fáceis da sociedade de consumo, são cooptados e se alienam, acreditando que a solução para os problemas é fazer parte do espetáculo, seguir ao sabor do fluxo e não contestar. Outros pulam fora, exacerbam sua atitude de revolta transformando-a em ódio, misantropia e desespero, estes vão encontrar alento e consolo num gênero que surge justamente como válvula de escape para os seus conflitos internos e externos.
Como composição musical, o Heavy Metal está muito ligado ao uso do trítono, um intervalo de três tons entre fá e si, em efeito inverso ao da oitava, enquanto a oitava é estável, o trítono é instável. Tal intervalo ora tem um aspecto angustiante, inquietante, ora tem efeito catártico, sexual até. Uma natureza de corte, separa, divide, desune e dissolve. O principio alquímico do solve, a função do diabolus na alquimia. Por esse efeito psíquico, o tri tono é proibido no canto gregoriano como o símbolo da dissonância, do desacordo, da discordância e rebelião. É, portanto censurado, calado e omitido. Assim, todo um gênero musical, está pesadamente construído em cima de uma estrutura tonal proibida pelo poder constituído a mais de 500 anos. É o trítono, como os musicistas religiosos católicos chamam, diabolus in musica, a natureza musical do heavy metal. E se a afronta já surge na notação musical, ela virá também no seu teor lírico, não se curvando e se comportando como manda o senso comum.
Ainda no campo da construção musical, para além da composição, o modo como a música em si será construída responderá mais efetivamente aos anseios do compositor e do público que as receberá, os vocais gritados expressando ódio e desespero, as guitarras distorcidas e tensas criando atmosferas por vezes violentas e por vezes tristes, a bateria dando a velocidade inumana e a brutalidade ao todo que se apresenta como os próprios sentimentos, que vem de dentro numa força e num impacto brutal. A música é assim construída em volta desta significação intelectual e emocional de quem a faz e também, porque não, de quem as ouve. E não do que as massas sistematizadas iriam achar. O heavy metal está, em sua grande maioria, construída numa forma pura. De sinceridade artística, por pessoas que acreditam sinceramente naquilo que estão fazendo. Exorcizando a dor e a revolta, transformando em manifestação artística. Cada um exorciza seus demônios interiores a sua maneira, Beethoven sofria de depressão e compôs uma ode a alegria ( a música, não o libreto), Lennon tinha sido um adolescente problemático e era um adulto angustiado. No metal e nos seus subgêneros, as temática lírica é em função muito desse subgênero, mas o subgênero é uma função do emissor, garotos deprimidos ou fazem uma banda de doom metal e explicitam o que os afetam numa atitude próxima ao de uma terapia pública, compartilhando sua dor e sofrimento com outras pessoas.
Psicólogos costumam dizer que suicídio é um ato de desespero quando se sente desamparado, dificilmente uma música que fala das dores internas e do desespero do autor levaria alguém que a escute ao suicídio. Mas não foi isso que alguns pais nos anos 80 pensaram, quando processaram Ozzy Osbourne e Judas Priest por induzirem seus filhos a tirarem suas próprias vidas, o que seria apenas um processo ridículo, envolvendo péssimos pais jogando a culpa de suas falhas como mentores para outras pessoas, acabou virando um circo de mídia, com equívocos e sensacionalismos baratos, semelhante ao que seria visto no fim de 2004 quando da morte de Dimabag. O mais cômico da situação, é que nem os pais (porque não quiseram ver) e nem a imprensa ( porque não procurou, talvez não interessasse) perceberam que uma das letras apesar do nome: “Suicide Solution” não fala de suicídio e sim de como o alcoolismo estava destruindo a vida do autor da música, no caso de Ozzy Osbourne: “Now you live inside a bottle/ The reaper's traveling at full throttle/ It's catching you but you don't see/ The reaper is you and the reaper is me.”( “ Agora você vive dentro de uma garrafa/ A morte viajando à velocidade máxima/ Ela está te alcançando, mas você não vê/ A morte é você e a morte sou eu.”).
Volta-se então, ao Jabor, a Globo e ao texto americano sobre a morte de Dimebag. Chegamos num ponto em que não se tem a desinformação como negação da realidade, aqui o que se apresenta é o outro aspecto, o de um novo tipo de informação que contém uma parte de verdade, o que será modificada, temperada, lavada, e será usada de forma manipulatória. As letras de Darrell eram violentas não como apologia a violência e sim como o grito primal de um garoto exorcizando seus fantasmas. Mas no entendimento distorcido de quem acha que se deve aceitar a tudo de forma passiva,e vende a idéia da alienação travestida de rebeldia ou o discurso consumista disfarçado de contestação social. Se para a globo, por vezes o hip hop é apologia ao tráfico, o heavy metal é incitação a violência e a morte. Fato é, jamais se verá uma banda de Heavy Metalnuma trilha sonora de novela das oitos, a melodia não serve, a letra também não, então, se não serve como trilha sonora, se incita os fãs a contestarem o vazio existencial de uma vida numa sociedade de consumo, logo o gênero e seus fãs são inimigos.
A ojeriza ao gênero vem daí? De uma afronta ao comercialismo vazio e aos ideais religiosos comuns? Talvez, mas a melhor resposta é dada por Sam Dunn, no final do documentário sobre Heavy Metal já citado aqui: “... o que ficou claro é que o metal enfrenta o que preferíamos ignorar. Celebra o que frequentemente negamos. Delicia-se com o que mais tememos. Por isso o Heavy Metal vai ser sempre uma cultura de excluídos.”

You Can’t be something you’re not./ Be Yourself, By yourself, stay away from me.
Walk By Pantera.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

John Hughes, 1950-2009



Passei os últimos dias pensando no que dizer sobre John Hughes. Não queria e nem poderia deixar a morte dele passar em branco. Mas também não queria dizer algo banal, afinal de contas, estou falando de um cara cujos filmes foram parte importante na formação de muitos de minha geração.e cuja morte talvez não tenha tido a devida importância que uma pessoa como ele merecia. Talvez a morte dele passe em branco entre os pseudo-intelectuais e críticos boçais que pululam por aí. Gente que não percebe em Hughes um modo diferente de se dirigir a juventude, fugindo ao lugar comum e tentando guiar-nos para além do mar de obviedades. Hughes talvez tenha sido um profeta falando para nós em meio ao desamparo de viver no auge da era Reagan.
Pensei em falar sobre seus filmes de um modo geral ou algo semelhante, o fato que queria fugir do lugar comum de falar de “Curtindo a Vida Adoidado”, talvez seu filme mais famoso. Não nego a importância desse filme, longe disso, considero um clássico, indo mais além, uma obra-prima subestimada. Mas justamente por isso, acho que todos falariam das aventuras de Ferris Bueller. Eu queria fazer algo diferente.
Resolvi fazer uma maratona com alguns dos filmes de John Hughes antes, e foi revendo “O Clube dos Cinco”, que vi algo que sintetiza bem a importância de John Hughes para aqueles que como eu tem mais de 30 anos, e até mesmo para os mais novos, afinal eu ainda vejo uma certa atemporalidade na obra dele.
Em “O Clube dos Cinco”, Hughes parte daquilo que poderia ser o típico grupo de adolescentes estereotipados para fazer um pequeno estudo das pressões aos quais somos submetidos nessa fase da vida. Pressões por parte de nosso nicho social, e principalmente por parte de nossos pais. É difícil ver num filme adolescente comercial, tal profundidade no tratamento desse tema espinhoso, o de como muitas vezes somos vitimas da carga de ansiedades e frustrações que nossos pais e mestres depositam sobre nós. Nos pressionando para ou sermos como eles, ou sermos como eles esperam que sejamos, quando no fundo tudo que queremos é sermos nós mesmos, encararmos a vida de nosso jeito, errarmos e acertarmos por nós mesmos. Hughes teve sensibilidade para ver isso, para lidar com isso de um modo ao mesmo tempo leve e profundo, divertindo e refletindo, do jeito que uma grande obra da cultura pop deve ser.
O atleta que não pode perder jamais vivido por Emilio Estevez, o nerd superdotado de Anthony Michael Hall, a patricinha aparentemente fútil de Molly Ringwald, o rebelde violento fruto de um lar desestruturado de Judd Nelson e a garota estranha de Ally Sheed podem até ser considerados estereótipos hoje em dia, mas quando foram criados e do modo como estão inseridos, estão mais para arquétipos universais. Como bem diz a redação que eles entregam ao final do filme, dentro de nós existe cada um deles.
Tomara que o tempo dê a Hughes a importância que ele merece.