sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Pornô, Indústria Cultural e Zeigeist


Entre os extras do DVD de Instinto Selvagem, tem uma entrevista com Paul Verhoeven, o diretor do filme. O repórter, ao que parece, da TV holandesa fala sobre o fato dele ser uma das 10 personalidades holandesas de sucesso. Muito sabiamente, Verhoeven afirma que o sucesso é algo relativo e aproveita esse ensejo para dizer que o último filme dele até aquele momento, The Hollow Man, foi um sucesso comercial, mas era um filme vazio para ele. Como diretor, ele afirma ainda que as coisas estão cada vez mais difíceis (isso já na época da entrevista), porque tudo era somente em nome do lucro fácil e da diversão vazia. Francis Ford Coppola, diz algo semelhante nos extras de Drácula de Bram Stocker, onde o ítalo-americano, diz que hoje em dia ele se sente mais realizado com a vinícola que fazendo filmes, pois está no limite do impossível achar financiamento para projetos mais autorais.
No inicio dos anos 80, a feroz crítica de cinema Pauline Kael escreveu um artigo premonitório intitulado “Por que os Filmes são Tão Ruins? Ou, os Números”, e que veio recentemente a tona numa coluna do Andre Barcinski para o portal UOL. No artigo, Pauline já afirmava entre outras coisas que: “Filmes são tão ruins ultimamente que eu não acho que eles estejam atraindo o público, acho que eles estão herdando um público.” Indo mais além: “Os estúdios acreditam que bons resultados de bilheteria são prova de que os espectadores gostam dos filmes, assim como executivos de TV acreditam que os programas de maior audiência são os que o público quer, e não os que o público aceita.” Nem é preciso dizer mais nada. Basta olhar para a grande maioria de filmes em cartaz atualmente.
Voltemos novamente no tempo um pouco. Richard Corliss, em seu artigo When Porn Was Chic, afirma no final do texto que uma das razões para o ocaso do período dourado do cinema pornográfico americano dos anos 70, não foi somente o advento do vídeo-cassete como muitos pensam, e sim o sucesso de filmes como Tubarão e Guerra nas Estrelas. Já que o sucesso acachapante dessas duas películas entre a massa de jovens e adolescentes fez com que executivos, distribuidores e exibidores ignorassem qualquer tentativa voltada mais para o mercado adulto. Convém lembrar aqui, que estamos falando dos filmes pornôs feitos no chamado fenômeno do pornô chic, que iam além do mero espetáculo onanista para tentar uma abordagem mais profunda e ousada dos inúmeros aspectos da sexualidade.
Voltemos então a 2010. O panorama da indústria do entretenimento de um modo geral, é desolador. O mercado musical sofre com um processo de baixas vendas, menos por culpa dos downloads ilegais e mais devido aos sucessivos investimentos acéfalos dos executivos em músicas descartáveis, o público realmente consumidor de música, envelheceu, muitos dos possíveis apreciadores de música foram educados por muito tempo com música ruim, sem significado. Como poderiam eles, saber que música é algo mais profundo, se durante anos essa industria empurrava goela abaixo coisas que você ouve agora e esquece daqui a pouco? Como demonstrar a importância de se ouvir algo que um compositor trabalhou durante um bom tempo, pensou numa letra com algum significado profundo, e cuja produção é algo cheio de camadas, quando o que os executivos ensinaram foi a consumir a imagem vazia? Isso gera até um outro problema mais subjetivo. Antigamente, quando alguém comprava um CD ou até mesmo LP mais complicado, reunia-se aos amigos para compartilhar o momento que era ouvir aquele material. Havia uma troca cultural no processo de se ouvir música. Hoje está mais fácil, mas ainda que a internet permita a torça de impressões sobre determinado trabalho em escala global, nem todos estão dispostos a isso. Mesmo porque não foram educados para isso.
O fenômeno é semelhante com os quadrinhos, que nos anos 90 sofreram com a idéia das Estórias e séries eventos, mas de cuja profundidade era a mesma de uma colher. Estória que venderam horrores, mas cuja relevância cultural pode ser medida no que acontece hoje. Por mais que se diga que quadrinhos estão hoje mais importantes do que nunca foram por causa da associação com Hollywood, é melhor olhar com mais atenção. Ou achar que faturar milhões com adaptações para o cinema seja o termômetro de sucesso desse povo. Quando se cria um personagem de quadrinhos já pensando na adaptação para a tela grande e não no desenvolvimento de um mitologia toda própria na Nona arte, é porque tem algo muito errado. Melhor é ser logo corajoso e escrever a droga de um roteiro para cinema. Já se vai muito tempo, quando nos anos 80 os quadrinhos foram tomados de assalto por coisas relevantes como as estórias do Demolidor feitas por Frank Miller. Sandman do Neil Gaiman, Watchmen do Moore. Material que até hoje é relevante. Passados muitos anos, Frank Miller virou um arremedo de roteirista para os quadrinhos e uma nulidade como cineasta (basta ver a sua adaptação para o Spirit). Cabe lembrar que estou falando aqui do Mainstream, eu sei que tem coisas muito boas sendo feitas de modo independente. Mas até mesmo esses tem uma certa dificuldade de sobrevivência.
A coisa é tão feia quanto com o cinema. A era dos filmes eventos continua. Avatar foi um espetáculo vazio, cujo previsibilidade do roteiro é proporcional ao sucesso de bilheteria, muito em função do 3D, o que fez com os executivos da indústria, essa raça de engravatados acéfalos queiram fazer qualquer bobagem em 3D. O que essas bestas não percebem, ou percebem mais não se preocupam com isso por serem de uma raça parasitária que não está nem aí se o cinema vai viver ou morrer, desde que eles arrumem outro lugar para sugar a vida. O que eles não percebem é justamente que ousadia, integridade é o que faz de algo duradouro. Muitos fãs de cinema, ainda assistem E O Vento Levou (feito em 1939), Laranja Mecânica (1971), Apocalypse Now (1979). Mas é bom ficar quieto ou os executivos boçais podem entender errado e quererem fazer mais um dos desnecessários remakes que aparecem durante o tempo todo. Muitos filmes atuais são feitos com o toque do imediatismo, quanto tempo as pessoas continuarão assistindo Crepúsculo e congêneres? Os filmes hoje obedecem a uma formula, que pode até gerar dividendos nas bilheterias, mas que é danoso a arte e a industria no médio e longo prazo.
Isso nos leva a um exemplo perfeito do ontem de lucro, que gerou um presente desolador. A indústria pornográfica está agonizando, por culpa dela mesma. Que durante anos se rendeu ao lucro fácil dos filmes gonzos. As produções baratas e rápidas feitas para o mercado de vídeo gerou lucros absurdos durante muito tempo, mas acostumou o público apenas as cenas de um modo isolado, não ensinou como o pornô setentista a ver o todo, a ver o sexo mesmo explicito inserido num contexto narrativo-dramático e estético. Não é a toa que os downloads ilegais afetariam. Com o gonzo, para que vou me preocupar em ter um filme inteiro de cenas repetitivas, se eu quero apenas um pequeno trecho para ver enquanto me masturbo?
Existem muitas pessoas querendo fazer algo diferente. Essas pessoas penam com os vícios cultivados pelos idiotas da industria que sabotaram toda uma área do entretenimento. Foi assim com o pornô, e será assim na música, e no cinema, em escala menor, mas será.
Só que ao invés de lamentar. Se pode usar a internet como uma ferramenta de apoio, e com ela ainda assim tentar fazer algo relevante, e não somente mais do mesmo para consumo imediato.Por isso há que se celebrar as iniciativas de gente como Maria Beatty que faz filmes belíssimos, que até o mais radical anti-pornô fica balançado ao ver. O meu amigo Ruy da x-plastic, que navega contra a corrente descartável aqui do Brasil. Chase Lisbon da Supercult. Erika Lust, ainda que um pouco chatinha no seu discurso, mas seus filmes tem uma característica toda própria. A Jennifer Lyon Bell. E claro, o kink.com.



Isso é um filme pornô. O que mostra que é possível fazer algo relevante e ousado.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Two-Lane Blacktop








Quando sou perguntado a respeito de meu gênero de cinema favorito ou alguma questão semelhante, por vezes fico exasperado sem saber como responder, não tenho uma resposta fácil, por até mesmo não ter um gênero favorito. Particularmente, me interesso mais por temáticas e afins.
Mas noto que na minha lista de filmes favoritos, um gênero ou subgênero aparece com um freqüência ligeiramente maior, mas muito ligeiramente mesmo. Falo dos road-movies.
Dentre os meus road-movies favoritos, um entrou na lista recentemente, Two-Lane Blacktop. Lançado em 1971, "Two-Lane Blacktop" é indiscutivelmente um dos melhores road-movies existenciais feitos entre o final dos anos 60, início dos anos 70 (incluindo aí "Easy Rider" e "Vanishing Point", esse aqui um favorito também e sobre o qual um dia falarei). O diretor Monte Hellman faz um exame cru, por vezes contundente, da alienação americana. O filme é simplesmente brilhante devido à sua recusa em ceder as facilidades do mero comercialismo. Um filme sobre um grupo em busca de corridas de carro aonde não se vê corridas de carro. Aliás, existe até uma corrida em "Two-Lane Blacktop", embora essa pareça terminar antes mesmo de começar. Existem extraordinários muscle cars também. Mas Two-Lane Blacktop é um estudo de personagens, embora os personagens não sejam pessoas como nós particularmente conhecemos.Os três principais personagens, almas perdidas num vazio de identidade e emoção. James Taylor (sim, aquele cantor mela-cueca trazido ao rock in rio por Roberto Medina), Dennis Wilson (o único surfista de verdade dos beach boys) e Warren Oates (não é o Oates de hall & oates) vivem os personagens principais, o que poderia já causar um certo estranhamento, mas o filme é muito bom. Taylor e Wilson cruzam silenciosamente as pequenas estradas do interior dos EUA procurando pela próxima corrida em seu Chevy ‘55. Eles acabam encontrando com Oates, um sujeito meio nervoso e tagarela que vive perdido em algum tipo de crise de meia-idade, enquanto leva caronistas no seu GTO.Acrescente nesta mistura uma jovem caronista interpretada de maneira soberba por Laurie Bird. Ela salta para frente e para trás entre estes três homens, sempre evitando suas desastradas tentativas de assédio.
"Two-Lane Blacktop" é um estudo de homens tristes perpetuamente perdidos em alguma desconhecida paisagem americana. Eles são fantasmas pairando, sem identidade, para sempre à procura de um sentido que não pode ser encontrado. Não há respostas nem verdades simplórias na complexa odisseia de Hellman. Estes homens estão presos, os seus carros servindo como caixões ambulantes, sem resgate aparente na próxima curva, destinados inexoravelmente a avançar cada vez ainda mais longe.
O início dos anos 1970, a música vinda do rádio AM, combinado com postos de gasolina anónimos, restaurantes de beira-de-estrada (ainda tem hífen?) e numerosas pequenas localidades, tudo contribui para o efeito global do sombrio estudo de personagem que Hellman fez. "Two-Lane Blacktop" é um dos melhores filmes americanos, e que quase ninguém jamais ouviu falar.

domingo, 4 de julho de 2010

Os Melhores Dias de Nossas Vidas (Inside I'm Dancing)







Existe um pequeno filme independente irlandês, que até existe em DVD no Brasil, mas que é difícil de achar e sobre o qual eu sempre quis falar aqui. Se puderem (partindo do pressuposto que esse blog é lido por mais do que uma pessoa) procurem-no, vale a pena assistir.No filme James McAvoy, mais conhecido por seu trabalho em "O último Rei da Escócia", interpreta Rory, um jovem rebelde, bem-humorado, que fala o que pensa e não liga para convenções sociais. O diferencial de Rory em relação a outros rebeldes do cinema, reside no fato que ele vive numa cadeira de rodas, desde de muito cedo, já que ele sofre de Distrofia Muscular de Duchenne, uma doença genética progressiva que se manifesta nos primeiros anos de vida. Logo quando a criança começa a andar.Rory é enviado para uma instituição de auxilio a deficientes aonde faz amizade com Michael, um outro garoto em cadeira de rodas. Michael tem paralisia cerebral, logo tem dificuldade de fala, mas consegue mover os membros com certa dificuldade. O contrário de Rory, cuja doença já deve estar no estágio final em sua progressão, já que ele não possui movimentos do pescoço para baixo. Cabe aqui um aviso, se pesquisar, irá ver que quem sofre de Distrofia Muscular de Duchenne dificilmente passa dos 21 anos de idade, morrendo antes por falência da capacidade do diafragma. Logo não se trata aqui de um espoiler dizer que Rory morre no fim do filme. É um filme independente e não um conto de fadas com um milagre no final.Mas agora falando de porque esse é um filme marcante, e que a cada vez que assisto descubro como ele pode ser uma metáfora com relação ao modo como muitos de nós encaram a vida. Não sofro de uma doença degenerativa ou que eu vá morrer cedo... espero. Mas existem elementos marcantes aqui como em toda obra de arte que nos ajudam a encarar o mundo por um prisma todo pessoal. Rory é um espírito indómito, ele se incomoda com o modo como as pessoas tratam os que possuem algum tipo de necessidade especial, eles tem dificuldades, mas não são incapazes. Não são diferentes de mim, de você ou de quem quer que seja. Eles pensam, amam, sofrem e querem se divertir. Mas o modo como Rory mostra isso é que é sensacional, ele leva Michael na primeira noite deles na rua a um bar e a uma danceteria, tudo por causa de uma garota que eles vêem na rua, Siobhan. Siobhan questiona Rory na danceteria o que ele fazia ali se não podia dançar, ao que Rory responde "Inside I'm Dancing" (Por dentro, eu estou dançando). É isso, a frase que acabou sendo usada como o título do filme na Irlanda, define o personagem sem precisar de longos diálogos. Perfeito como construção narrativa do roteiro.Rory conduz Michael a se rebelar, a viverem fora da instituição que os acolhia, a serem independentes. E escolhem como enfermeira, a mesma Siobhan, que não tem experiência para tal. Mas isso não importa. Michael se apaixona por Siobhan, Siobhan por sua vez é apaixonada por Rory, que até tem sentimentos reciprocos por ela, mas conhecendo o seu destino, o da morte iminente, sublima isso em função de empurra-la para o amigo. As coisas não vão acabar bem nesse triângulo sui-generis. Quando a situação chega no limite, e Siobhan se vê forçada a abandonar os dois. Michael tenta implorar, mas Rory diz em seu modo cruel de encarar a vida que "periquitos não namoram tatus", crueldade sublimando a dor. Siobhan encerra a discussão com "Eu não posso ajudar quem eu amo, eu não posso ajudar quem eu não amo". Verdades que trazemos para a vida num roteiro simples, mas que possui camadas.É aqui que esqueço o filme, acontece mais coisas até o final, mas deixo para aqueles que quiserem assistir verem. Me concentro agora, no que esse filme carrega de conexão com o modo como muitos encaram a vida. De certo modo, todos nós temos nessas deficiências como Rory, cujo cerebro e modo de pensar não é acompanhado pela incapacidade física de seu corpo. A mente dele é maior que o corpo dele, isso o faz cru, isso o faz prisioneiro de sua própria existência. Assim como muitos de nós que vêem a existência massacrar as nossas vontades. Muitas vezes amamos a quem não podemos amar, somos amados por quem não queremos. E sempre estamos ferindo ou sendo feridos, não por nossos desejos, é nossa inabilidade lidar com essa situação. Quantas vezes não ouvi por aí, que vivo no lugar errado, que nasci no lugar errado. Pretensão minha? Pode até ser. Mas é fato que de certo modo, todos nós temos nossas próprias incapacidades ou limitações. Quase sempre somos obrigados a ouvir que devemos nos submeter e desistir de sermos nós mesmos. As convenções sociais, são a nossa doença degenerativa.Quantas vezes seu desejo real esbarrou naquilo que um mundo quer de você, ou pior quando você assume ser você mesmo você vira um deficiente solitário aos olhos da sociedade?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Aquele com Friends.


Sempre me pego assistindo reprises de Friends pela enésima vez. E olha que tenho a caixa com a quarta temporada. Aliás, a quarta temporada é a minha favorita, mais pela presença de atores ingleses ao longo da temporada do que por muitos dos episódios em si.


Posso considerar Friends como uma das melhores coisas já feitas para a TV (Seinfeld não conta, é obra-prima e por isso é Hours-Concours).


Eu estava observando o motivo de se ver tantas vezes um mesmo episódio. O forte de Friends, além de um bom texto calcado em bons diálogos, está na construção das situações envolvendo o porquê daqueles seis serem amigos. Gostamos deles por suas qualidades, por nos lembrarem do valor da amizade, isso é o que se sobressai na primeira olhada. Mas eles, os personagens, gostam um do outro apesar de seus defeitos. Sim, são os defeitos de cada personagem que exacerbados fazem o grande ponto forte da série.


Mõnica é um obsessiva-compulsiva, maníaca por organização e limpeza e extremamente controladora. Rachel é uma patricinha mimada, por vezes egoísta e que sabota os relacionamentos por não entender e compreender as necessidades do outro. Phoebe é uma espécie de hiponga maluca, sem senso de realidade e com uma queda por sexo pervertido. Ross, é um Doutor em Antropologia que sempre se acha o dono da verdade, mas paranóico em relação aos relacionamentos e que estragou a felicidade de um ou duas mulheres tentando fugir de seu masoquista interesse pela Rachel. Chandler, é um inconstante sarcástico, que usa o humor acido para compensar os traumas de seu passado. Joey, é um bobo alegre, meio misogino, que tem medo de relacionamentos. Com tudo isso eles se amam, e aqui na minha opinião está o ponto forte da serie, eles são amigos apesar das falhas justamente porque devemos lembrar que não devemos buscar corrigir nossos amigos, devemos aceitá-los como eles são, e sempre extender a mão, oferecer um ombro e estar sempre disponível para um abraço reconfortante. Essa é a magia de Friends.
Tanto que Joey se tornou o personagem mais popular da serie justamente por ser aquele que mais tentava manter os amigos unidos, em meu episódio favorito, quando vemos eles em seus aniversários de 30 anos, em todos os aniversários o ponto comum era justamente Joey reclamando com Deus por ver seus amigos envelhecerem. Mas Joey era o mais popular dentro da serie por ser o grande ponto de conexão, mas os executivos da TV (sempre eles, essa massa cujo salário alto é inversamente proporcional ao Q.I.) não entenderam isso e criaram um Spin-Off desnecessário e sem graça, tanto que não sobreviveu.

sábado, 3 de outubro de 2009

Rio 2016? Parei!

O que levou o COI (Comitê das Observações Inúteis), a escolher o Rio como sede dos jogos de 2016?
O melhor projeto era o de Tóquio, o mais sólido era o de Madrid, e Chicago, bem eu não sei qual era a de Chicago, mas diziam que era uma candidatura forte. No entanto, o Rio com seu trem da alegria do Pan(Dêmonio) foi a cidade escolhida. Dizem que foi por causa do dinheiro garantido, claro, com meu dinheiro e com seu dinheiro também contribuinte otário fica fácil ganhar qualquer coisa, menos se você quiser saúde e educação. Dinheiro público não foi feito para saúde e educação.
Talvez um dos motivos tenha sido o almoço que Paulo Coelho tenha tido com 70 esposas de delegados do COI no restaurante mais caro de Copenhague e cuja conta foi paga pelo contribuinte brasileiro. Dinheiro público não foi feito para saúde e educação. Talvez esse almoço do nosso mago da má literatura com essas senhoras de Botox até na alma, tenha servido para convencer os maridos das dignissimas, após a farra com prostitutas que levou o COI a escolher Londres em 2012. Consciência pesada é um porre. Deve ter delegado dormindo na sala até hoje.
Pior do que saber disso, ou ver os discursos de Poliana-mergulhada-no-prozac do nosso presidente. É ver as lágrimas de crocodilo debiloide do governador do Rio, ou a cara de fuinha desonesta (é pleonasmo?) do Prefeito. Aliás, o que o carioca tem na cabeça? Eduardo Paes não poderia vender carros usados sua cara não passa confiança, e no entanto virou prefeito. Imagine a cena, você chega para comprar um carro e dá de cara com o Eduardo paes, você compraria?
Vendo a festa com dinheiro público que já foi a candidatura, a viagem desse imenso Trem da Alegria, que incluía até uma ex-estudante de cinema da UFF que ganhou uma medalha de bronze em Pequim, a mulher é um atleta medíocre, fala mal, e não é lá muito inteligente, o que a beleza não faz? E toda a manada do COB (Caixinha, Obrigado Brasil). Dinheiro público não foi feito para saúde e educação.
Copa do Mundo em 2014 e Jogos Olímpicos em 2016, ao invés de estudar cinema, eu deveria ter uma Camargo Correa, Uma Andrade Gutierrez. Esses sim estão comemorando mais que o resto do povo brasileiro, porque esse toma porrada e ainda ri, é o complexo de hiena, come carniça, transa uma vez por ano e ainda ri.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ótimo Texto

Recebi esse texto por e-mail, eu estava pensando em escrever algo a respeito desse episódio, mas o professor aqui embaixo fez isso de modo melhor, logo, prefiro colocar o que ele escreveu, claro, creditando-o.

Viver sem corpo na Bahia – e no Brasil todo!
Paulo Ghiraldelli
O Brasil não é mais um país de brancos. As estatísticas mostram isso. Nosso país se orgulha, agora, de ser uma democracia racial. Este é o discurso oficial. Mas, na vida cotidiana, o preconceito com a cor se mistura à hipocrisia e ao medo da sensualidade, sempre associada aos mais escuros de pele, e continua criando dificuldades para muitas pessoas. Entre essas pessoas, as mulheres são as mais visadas.
Uma bela mulata, jovem, formada em pedagogia, subiu no palco em um show de pagode e dançou o ritmo que está tomando a Bahia, o “Todo enfiado”. No meio da dança, o vocalista levanta a saia da moça. É claro que ela não deu vexame, ela não saiu dali chorando e espancando o vocalista. A professora estava participando de uma festa. Pode não ter gostado do que ocorreu, mas jamais iria descer do palco em atitude agressiva. É claro que os celulares filmaram tudo. Uma vez na Internet, a professora foi identificada e perdeu o emprego. Ela dava aulas para crianças de cinco anos em uma escola particular. Não contentes com isso, os bahianos vizinhos dela, por meio de pressão moral e psicológica, empurraram a moça para fora do bairro, onde morava com o filho pequeno.
A professora preferiu não servir de mártir. Acuada, não deu entrevistas. Provavelmente tem medo de não conseguir mais emprego. Não estou falando de um estado sulista não! Estou contando um caso da Bahia, recém ocorrido.
Este é o Brasil da democracia racial não oficial. Quando escuto e vejo isso, e quando olho o tratamento que a imprensa televisiva deu ao caso, tenho vergonha do Brasil. As televisões que menos desaprovaram a moça, ainda assim falaram dela com certo asco na voz. A professora estava dançando e não podia prever que iria ter a bunda mostrada. Era um divertimento. Ela tinha esse direito. Por um quase exagero do vocalista, ela pagou um preço muito alto. Agora, a culpa é do vocalista ou dela? Não há culpa. Não há culpa! Isso é que é necessário entender. Não é possível que ao compartilhar do ethos do povo, um elemento individual da sociedade que usufrui desse ethos, seja punido. A professora nada fez senão dançar o que todos nós dançamos: a dança de pessoas de uma democracia racial.
A dança que toma os palcos bahianos é igual a qualquer outra dos últimos vinte anos, do “Tcham” à “Dança da Bundinha”. Que os jovens, principalmente os que sabem rebolar e possuem a jinga no sangue, venham a fazer isso em particular ou em público, é alguma coisa não só permitida, mas é, na prática, incentivada. A professora está na casa dos vinte, portanto, cresceu com isso. Faz parte do que aprendeu como correto, e é o correto. É bobagem dos conservadores eles quererem transformar a dança e o divertimento em “foi lá para mostrar o rabo”. E se foi, e daí? Danças mostram partes do corpo, impossível dançar sem o corpo. O próprio nome da dança, como tantas outras, diz claramente que a sensualidade envolvida na coisa é, de fato, a sensualidade do momento, da exibição de certas partes do corpo e com certas posições e relações entre roupa e corpo. Não podemos confundir o ato de mostrar uma parte do corpo em uma dança e o ato de mostrar a parte do corpo em um determinado lugar para uma determinada pessoa, em gesto que pode ser qualificado de obsceno. Não há dança obscena.
A atividade da professora, ao dançar, não foi na escola. Nem mesmo foi ela quem filmou e colocou na internet. Além disso, mesmo que tivesse dançado na escola e posto na internet, ainda assim seria necessário ver que todos, nos últimos trinta anos, estiveram diante de babás eletrônicas (ah, loiras podem!) que dançaram mostrando partes do corpo. Claro! Como dançariam sem corpo? Ah, querem dança disciplinada? Dança não é marcha militar!
Se todas as mulheres não puderem nem mais cruzar as pernas em um bar porque, se filmadas e aparecer a calcinha, serão demitidas, então teremos institucionalizado o terrorismo de todos contra todos. É necessário parar agora com isso. Não parar de filmar. Mas parar com o ataque da pressão social que quer fazer o nosso corpo desaparecer. Ou paramos agora com isso ou vamos começar a punir a nós mesmos por sermos o que somos. Criar problema contra o fato da moça mostrar o corpo pertence ao mesmo tom de conversa daqueles que invocavam com Lula por ele ter barba. É a exigência do “padrão do corpo”, é o desrespeito a tudo que somos como humanos. Não é moralismo não. O moralismo é apenas casca, neste caso. É vontade, mesmo, de colocar “na linha” os que, com sua presença exuberante, mostram para nós que somos corpo. Os conservadores odeiam essa lembrança. Pois, quando ficam sabendo que somos corpo, percebem que todos iremos morrer – desaparecer. Eles não querem aceitar isso, querem ser imortais, então, não admitem que somos todos corpos. Cada um de nós é ou gostaria de ser aquilo que a professora soube mostrar, e que os conservadores amam e odeiam: a beleza do corpo.
Os conservadores que demitiram a moça ou que a pressionaram e os donos do colégio que, enfim, disseram que ela não foi demitida (mas não foi incentivada a ficar), vão ganhar o troco mais cedo do que esperam. Suas filhas vão dançar o “Todo enfiado” na frente deles. Com 6, 7, 12 ou 15 anos. Todas vão mostrar as nádegas e vão gingar muito. As mulatas irão, talvez, gingar melhor que as brancas. Isso ocorrerá não só em Salvador, mas no Brasil todo. No entanto, no cotidiano, a professora vai carregar a marca da discriminação. O ethos do qual ela participa, vencerá. Sabemos disso. No entanto, não podemos viver da glória hegeliana de achar que os indivíduos devem pagar o preço pelo sucesso da história em seu rumo à liberdade. Não! Temos de fazer justiça a cada indivíduo, agora, para não ter de criar cotas justiceiras futuras. A professora precisaria ter a lei a favor dela agora, neste momento. A OAB e o próprio presidente da República e os candidatos à presidência, todos deveriam apoiá-la. Agora sim, o governador da Bahia deveria vir a público, como fez naquele espalhafatoso caso do professor universitário que deu entrevista na rádio mostrando preconceitos de toda ordem. Naquele caso, era fácil. Quero ver agora, em que o preconceito contra nosso sangue e nosso ethos está mascarado. Quem se cala nessa hora, com medo do Brasil reacionário, é covarde. Quem fala um “azinho” da moça professora, é um verme.
28 de agosto de 2009 Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Prometeu Acorrenttado X Hamlet

Angústia pode ser lida como motivação principal das duas obras, não a toa que ambas estejam no centro das influências entre os românticos. Em Prometeu, podemos entender o seu ato de “roubo” do fogo como uma metáfora para aquisição de conhecimento e capacidade de discernir e por tabela o seu castigo eterno como o preço que pagamos quando realmente temos consciência que vivemos num cenário de idiotas. Sofrer, e sofrer eternamente é o resultado de ousarmos discernir que a realidade é cruel, que o mundo e a religião não nos dará alivio as nossas dores e que mais nada faz sentido. O que nos leva também a Hamlet, se esquecermos por um momento que o príncipe luta para vingar a morte do pai ante um tio usurpador, veremos que o próprio príncipe já divaga por entre as paredes do palácio, sofrendo ante uma crise existencial, que é o cerne do monologo lá do Ato 3, cena 1, o famoso “Ser ou não Ser”. Esse monologo em meu entender é sim fruto de uma alma atormentada com a falta de um lugar no mundo, de um deslocamento que é da natureza romântica. Reflexão, dramas de consciência, em ambos, Hamlet e Prometeu Acorrentado somos apresentados a sentimentos e pensamentos eternos e cada vez mais atuais. Vivemos um mundo em transição? Ou somos nós que em transição por esse mundo árido na verdade nos sentimos deslocados? Um observação é possível, em todos os momentos em Prometeu Acorrentado é oferecida a chance de uma saída, de uma escapatória ao flagelo, mas o herói orgulhosamente sempre a recusa, em Hamlet, o príncipe sempre surge entediado, aparentemente é um personagem em que a história não se move nele, ele dialoga com a plateia, mas ainda não acontece de fato, a reclamação ante o casamento do tio com a sua mãe, mais parece uma manifestação de ciúmes edipiana do que propriamente uma vergonha por ver um usurpador no trono, e se não fosse o fato dos outros personagens verem o fantasma de seu pai também, poderíamos até suspeitar tratar-se de algum tipo de alucinação, mas a maneira como ele se entrega a sua missão, revela mais um desejo de compensar uma dor por outra. A dor de Hamlet, é não saber seu lugar no mundo, seus amigos são falsos e sua vida é cinzenta, fria e sem um norte satisfatório. A vingança insana é melhor que a angústia, e a dor é melhor do que a sensação de não estar vivo. A razão de viver, ainda que pela dor, uma outra característica muito explorada pelo romantismo, para sentir-se vivo é necessário provar todas as sensações ao extremo, ainda que essa sensação seja a dor, física ou espiritual.